POUR UNE FEMME COURAGEUSE.Une page de l'histoire du Portugal.
Catarina Eufémia a été tuée par un tir de mitraillettes, deux coups de pistolets et encore un pour l'achever, au Portugal, sous le régime fasciste, chrétien et corporatiste de Antônio Oliveira de Salazar.
Le 19 Mai 1954.
Les femmes et les hommes qui faisaient la récolte du blé, pauvres manouvriers, gagnaient à peine une vingtaine d'escudos par jour, autrement dit une misère.
Quand, à Baleizão, dans la région agricole des grandes propriétés terriennes (latifuпdiums) de l'Alentejo, latifuпdiums qui auront été les grands exploiteurs des travailleurs, exploiteurs appuyés par les tueurs de la police et de la PIDE (la police politique), les sans-terre se révoltèrent, et demandèrent 24 escudos par jour, la réponse aura été, sur un groupe de huit personnes, les tirs de mitrailleuses, et pour ceux qui auront survécu, la prison, et la torture par la PIDE.
Pourquoi rappeler cela, si ce n'est pour exprimer que la lutte des classes existe, qu'elle peut être sanglante, que l'armée et la police ne sont pas les amies des travailleurs, et que le capital foncier (comme aujourd'hui le capital financier) a recours au fascisme comme dernier rempart contre la volonté de changement social des travailleurs.
Le grand José Afonso, dit "Zeca", aura adapté une chanson en hommage à Catarina Eufémia, militante communiste, assassinée par les sbires du régime fasciste, la voici. C'est la chanson "Cantar Alentejano" qu'il interpréta, la dictature fasciste étant encore en état, pour son disque paru en 1971 (diffusé clandestinement).
Bon, malgré le respect simplissime des règles du postage, je n'obtiens qu'un écran noir.
Je me vois donc obligé de vous donner, telle quelle, l'adresse internet de la chanson "Cantar Alentejano" de José Afonso, dit Zeca.
http://www.youtube.com/watch?v=QiHf-4fodos
En voici le texte, que je vous traduis en vers non assonancés de sept syllabes et, à la fin, par deux octosyllabes :
CANTAR ALENTEJANO/Chant de l'Alentejo
par Vicente CampinasChamava-se Catarina/elle s'appelait Catherine
O Alentejo a viu nascer/L'Alentejo l'a vu naître
Serranas viram-na em vida/ Et en vie les montagnardes,
Baleizão a viu morrer/Baleizão l'a vu mourir.
Ceifeiras na manhã fria/Moissonneuses au matin froid
Flores na campa lhe vão pôr/Des fleurs déposent à sa tombe,
Ficou vermelha a campina/Sa tombe est demeurée rouge
Do sangue que então brotou/Du sang qui alors jaillit.
Acalma o fuгоr campina/Tombe, apaise ta furie
Que o teu pranto não findou/Toi dont le chagrin ne cesse ;
Quem viu morrer Catarina/Qui vit mourir Catherine
Não perdoa a quem matou/Ne pardonne à l'assassin.
Aquela pomba tão branca/Cette colombe si blanche
Todos a querem p’ra si/Chacun la veut avec lui
Ó Alentejo queimado/Ô, Alentejo brûlé
Ninguém se lembra de ti/Personne ne pense à toi.
Aquela andorinha negra/Cette alouette-là, sombre,
Bate as asas p’ra voar/Bat des ailes pour voler
Ó Alentejo esquecido/Ô Alentejo oublié
Inda um dia hás-de cantar/Un jour, il te faudra chanter !!!
Une page internet, avec des poèmes et des entretiens, dédiée à la mémoire de cette femme courageuse, Catarina Eufémia, qui, comme l'a écrit Sophia de Mello Breyner Andresen "Alors que tu portais un enfant dans ton ventre, tu n'as pas reculé, tu n'as pas cuisiné le bavardage et la calomnie, comme ont coutume les femmes de notre pays, tu ne t'es pas limitée à pleurer..."
http://www.pcp.pt/actpol/temas/pcp/catarina/index.htmEn ce temps-là, les travailleurs, comme les actuels chômeurs et retraités du Portugal, ou les simples gens, sоumіs à un programme "d'assistance" qui détruit tout le tissu industriel (l'exemple le plus tragique étant les chantiers navals de Viana que l’État va concéder à une entreprise privée, dans un pays maritime !), les services publics (les hôpitaux, les télécommunications et les postes, les tribunaux, ...) , les conditions minimales de la survie (la troïka Fonds Monétaire International-Banque Centrale Européenne-Commission de l'Union Européenne exigeant que le pauvre salaire minimal portugais soit encore baissé !!!), souffraient chaque jour de la faim, et terriblement, et des persécutions politiques, au point que les Portugais nés après la Révolution du 25 Avril 1974 ont de la difficulté à se représenter ce que c'était, cette souffrance.
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L'article en langue portugaise qui raconte cela.
Il s'agit du témoignage de la plus jeune travailleuse du groupe de manouvriers visés par les tirs des mitrailleuses de la police, témoignage recueilli en l'année 2000.
Catarina Eufémia, chaque année le 19 Mai, est dans le souvenir des paysans et des villageois de Baleizão (Alentejo) : il se réalise à chaque anniversaire de son assassinat une grande assemblée et une manifestation publique en hommage à sa mémoire.«QUEREMOS PÃO E TRABALHO PARA OS NOSSOS FILHOS»
ENTREVISTA A ANTÓNIA DA GRAÇA LEANDRO por Miguel Patrício *
Antónia da Graça Leandro, de 64 anos, era a mais jovem companheira do rancho de Catarina Eufémia, no dia em que esta foi baleada, a 19 de Maio de 1954.
Encontrámo-la, por mero acaso, numa das ruas de Baleizão, momentos antes do início do desfile de grupos corais e do comício de homenagem a Catarina. Indiferente ao forte aguaceiro que caía sobre a aldeia, a velha camponesa não hesitou em falar com o repórter, debaixo de um frágil chapéu-de-chuva, manifestamente insuficiente para a resguardar. Durante o diálogo, o «aborrecimento da chuva» foi vagamente referido, mas minimizado pela nossa interlocutora. Não são três pingos de chuva que fazem desistir uma velha mas rija e determinada camponesa alentejana de relatar o que se раssou «naquele dia» — como ela lhe chamou -, que ficou gravado na memória colectiva de um povo. Afinal, todas as oportunidades são poucas para continuar a denunciar o fascismo.
Ontem indiferente às balas da GNR e, posteriormente, já na prisão, às ameaças e torturas da PIDE; hoje indiferente à chuva, Antónia Leandro disse-nos de sua justiça:
« - A gente, naquela época, ganhávamos 20 escudos por dia, na «aceifa». Depois, começaram a aparecer uns papelinhos, do Partido Comunista, a dizer para a gente fazermos greve, para pedirmos mais salários, porque ganhávamos muito poucochinho. E assim fizemos e fomos pedir ao agrário 24 escudos por dia. Fizemos greve e ficámos em casa. Entretanto, uma senhora, casada com um homem que tinha uma «courelinha» (pequena propriedade), tinha o marido no hospital, vivia mal e não tinha dinheiro para pagar às pessoas para ir ceifar, pediu-nos ajuda e nós fomos fazer essa esmola. Íamos a caminho dessa «courelinha», quando avistámos um grupo de pessoas, do Penedo Gordo, ceifando, na herdade onde a gente andávamos, antes da greve. Diz a gente assim: ‘Ah!, mas então assim não pode ser; então a gente estamos em greve e aquelas pessoas estão ali ceifando! Temos que ir falar com elas’. Viemos para casa, deixamos as foices e fomos falar com elas. Estávamos ali ao poço, à entrada da aldeia, quando chegam guardas, muitos guardas, e perguntaram o que é que a gente queria. A gente dissemos que queríamos falar com as pessoas, porque a gente ganha pouco dinheiro... Um dos guardas disse-nos para avançarmos alguns раssos e pediu-nos para não armarmos barulho. Mas, a gente sabíamos que havia mais guardas mais à frente, no outro lado. Fomos. Nesse tempo era moça novinha, tinha 18 anos, e não sabia o que eram metralhadoras, não sabia nada dessas coisas de armas... Avançámos, conforme a gente subiu a valeta, ouvimos o barulho de uns tiros. A gente não sabíamos que eram tiros. Portanto, a própria guarda mandou a gente avançar e depois disparou. Mas não foi esse que nos deu ordem para avançar; esses ficaram cá à beira da estrada; o que disparou foi um que estava escondido atrás das favas. Estava escondido - a gente é que não sabíamos»
- E esse grupo de trabalhadores era constituído por quantas pessoas?
- Eram oito ou nove mulheres e três homens. Esse grupo de trabalhadores depois foi preso. Estivemos 18 dias na cadeia de Beja e depois respondemos.
- Como é que foi essa parte dos tiros?
- Depois, então, a gente subimos aquilo e diz a Catarina assim: «Esses tiros são do feitor, para meter medo à gente». Avançámos um pouquinho, até ao sítio onde agora está a foice [monumento erguido no local depois de 25 de Abril de 1974], quando agente vê sair aquele homem por detrás dos molhos das favas. E perguntou:
«O que é que vocês querem, burras?» Entretanto, ele chegou ao pé da Catarina, que estava assim à frente da gente, e deu-lhe um estalo na cara. Ela deixou cair um lenço, apanhou-o e disse: «Queremos pão e trabalho para os nossos filhos» E ele repetiu:
«Queres pão e trabalho para os teus filhos...” Levantou os pés da criança, que estava ao colo da mãe, encostou a arma à Catarina e deu-lhe dois tiros. Ela caiu, ele pegou no menino, que tinha a cara cheia de sangue, e disse a outra mulher «Pega no moço, deixa esta burra». Já com ela morta ainda lhe chamou burra. Depois, ia atirar à gente. A gente caímos de joelhos e gritámos: «Paz, paz, paz». Entretanto, chegou o dono do monte e disse: «Ó senhor tenente, então já matou uma mulher, o que é que está a fazer?» Ele então parou. Mas, depois, penámos muito, esse tempo todo: foi a prisão, as perseguições, foi a fome... Tanta fome que a gente раssou. Penámos muito.
Algumas pessoas mais novas, nascidas depois do 25 de Abril, nem querem acreditar.
*in «Diário do Alentejo», de 26.05.2000